terça-feira, 10 de maio de 2011

Eu sempre acreditei que ele andava fora de si. E na verdade ele andava. Ninguém sentia o que ele acreditava. “A sabedoria consiste em não demonstrar tudo aquilo que sabemos”, dizia. Não lembrava o nome de ninguém, mas sabia bem quem era de verdade. Era fã de uma moda vintage que ninguém entendia. Nem ele, talvez. Tinha seu conceito próprio de beleza, e mesmo assim não a apreciava. Dentro da sua pasta tinha muita coisa, menos o que ele sempre precisava. Era um quase-filósofo, quase-psicólogo, quase-amigo, quase-entendedor, era quase-tanta-coisa que acabava sendo um completo-nada. Sendo só ele, diferentemente normal do resto das pessoas naquele corredor em que seus passos eram abafados pelo barulho de risos histéricos. Ele falava, mas nunca tinha assunto nenhum. Ele falava, mas nunca conversava. Tinha um relógio no braço, mas a hora não servia pra nada. E ele era feliz desse jeito, vazio, sem graça, dando adeus sem ter dado olá, confundindo tudo mesmo sem ter começado a história. Ele pesava demais sobre si, pesava tanto que seu olhar dava pena. E com ele, aprendi que os finais tristes dão mais possibilidades de enredo e que a maioria das pessoas tem preguiça de ser feliz.

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